Enquanto cursava o 2° grau, meu livro de português da época trazia uma propaganda dos anos 90 que utilizava como ilustração a célebre imagem da linha da evolução humana (aquela que o primata Australopithecus aparece de perfil sobre quatro apoios, e gradativamente eleva-se, até atingir a postura ereta, do homem chamado de “evoluído”, o tal do Homo-erectus). E como isto era uma propaganda e não uma aula de história ou coisa parecida, a imagem continha uma pequena alteração no seu conteúdo: o tal do homem “evoluído” trazia em uma de suas mãos uma lata de Coca-cola.
No tal livro de português, além da propaganda, havia uma hipótese sobre as possíveis interpretações desta imagem, que dizia mais ou menos assim: Se o mundo acabasse e restasse na face da terra apenas este anúncio, quem chegasse depois acreditaria que o borbulhante líquido escuro era nosso Deus.
Ignorando a não sapiência do nome do autor desta hipótese um tanto quanto contraditória, o fato da Coca-cola ser ou não ser Deus, e o porquê escolhi esse exemplo tão confuso, direciona-se aqui o foco no questionamento conduzido pela hipótese citada: Várias interpretações de uma mesma informação. A variedade de desvios que uma mensagem pode tomar no caminho entre emissor-receptor.
Maria Mommensohn, questiona exatamente isto:
“O mesmo gesto pode ter significados culturais diferentes em culturas diversas. Ele age/reage em função de necessidades intrínsecas de adequação com o ambiente.”
Para a Arte, nada melhor que poder usufruir de um vocabulário onde um mesmo signo traz diversas significações. Isto é fantástico para aumentar o repertório de possibilidades artísticas e conduzir o expectador a caminhos que talvez nem imagine que se possa levar. Mas se este é o sonho, é também o pesadelo da Arte. É por causa das infinitas interpretações que um mesmo espetáculo, que uma perna alta, que uma cor vermelha podem remeter, que críticos tem emprego, que público escolhe seu ídolo, que a classe artística se digladia.
Sim, não é o que a coreografia quer dizer, mas o momento da sua vida que VOCÊ resolveu assisti-la, o que VOCÊ pensa da companhia que irá executá-la, os valores que VOCÊ traz sobre o tema proposto pela mesma, e tantos outros fatos que fazem de VOCÊ o culpado de tudo que irá pensar e sentir sobre o espetáculo.
Mas se isto ocorre, o que fazer? Deve-se lançar um livro com a hermenêutica absoluta e nada relativa de tudo o que tudo possa significar? Criar uma lei que puna significações diferentes para o mesmo ato (Quantos “eu te amos” seriam multados)? Infelizmente, a Filosofia da Linguagem está aí há séculos tentando fazer isso, e não teve nenhum êxito. E, mais infelizmente ainda, já pagamos uma multa bem cara por cada ato nosso ser interpretado de diversas formas.
Talvez porque ainda o objetivo do ser humano é chegar sempre a alguma certeza e nunca a mais dúvidas. Ao escrever um texto (este, por exemplo), finaliza-o com algo que se nomeia “conclusão”. Não estaria este texto dentro das normas se ficasse aqui lançando perguntas e não fornecesse certeza alguma.Você está sedento de um lugar confortável e não de aumentar a sua instabilidade com mais questionamentos.
E antes que este assunto tome outro rumo, voltemos então ao questionamento principal: o que fazer com arte, que dá margem a tantas interpretações? O que fazer quando você quer dizer algo e escutam outra coisa?
Murray Louis cita: ”A prática da arte é tão intensamente subjetiva, tão pessoal (...) que é inevitável que todos acabem sendo apanhados e aprisionados em sua própria rede pegajosa de definições. Ainda sim, há que persistir”.
Há que persistir. Há que persistir em tentar captar o que os olhos vêem e não o que seu olhar quer ver. Será possível? Será pretensão? Será que perdemos a mensagem no meio do caminho? E se ela tranformou-se? E que tal pegarmos outro rumo no próximo texto?
No tal livro de português, além da propaganda, havia uma hipótese sobre as possíveis interpretações desta imagem, que dizia mais ou menos assim: Se o mundo acabasse e restasse na face da terra apenas este anúncio, quem chegasse depois acreditaria que o borbulhante líquido escuro era nosso Deus.
Ignorando a não sapiência do nome do autor desta hipótese um tanto quanto contraditória, o fato da Coca-cola ser ou não ser Deus, e o porquê escolhi esse exemplo tão confuso, direciona-se aqui o foco no questionamento conduzido pela hipótese citada: Várias interpretações de uma mesma informação. A variedade de desvios que uma mensagem pode tomar no caminho entre emissor-receptor.
Maria Mommensohn, questiona exatamente isto:
“O mesmo gesto pode ter significados culturais diferentes em culturas diversas. Ele age/reage em função de necessidades intrínsecas de adequação com o ambiente.”
Para a Arte, nada melhor que poder usufruir de um vocabulário onde um mesmo signo traz diversas significações. Isto é fantástico para aumentar o repertório de possibilidades artísticas e conduzir o expectador a caminhos que talvez nem imagine que se possa levar. Mas se este é o sonho, é também o pesadelo da Arte. É por causa das infinitas interpretações que um mesmo espetáculo, que uma perna alta, que uma cor vermelha podem remeter, que críticos tem emprego, que público escolhe seu ídolo, que a classe artística se digladia.
Sim, não é o que a coreografia quer dizer, mas o momento da sua vida que VOCÊ resolveu assisti-la, o que VOCÊ pensa da companhia que irá executá-la, os valores que VOCÊ traz sobre o tema proposto pela mesma, e tantos outros fatos que fazem de VOCÊ o culpado de tudo que irá pensar e sentir sobre o espetáculo.
Mas se isto ocorre, o que fazer? Deve-se lançar um livro com a hermenêutica absoluta e nada relativa de tudo o que tudo possa significar? Criar uma lei que puna significações diferentes para o mesmo ato (Quantos “eu te amos” seriam multados)? Infelizmente, a Filosofia da Linguagem está aí há séculos tentando fazer isso, e não teve nenhum êxito. E, mais infelizmente ainda, já pagamos uma multa bem cara por cada ato nosso ser interpretado de diversas formas.
Talvez porque ainda o objetivo do ser humano é chegar sempre a alguma certeza e nunca a mais dúvidas. Ao escrever um texto (este, por exemplo), finaliza-o com algo que se nomeia “conclusão”. Não estaria este texto dentro das normas se ficasse aqui lançando perguntas e não fornecesse certeza alguma.Você está sedento de um lugar confortável e não de aumentar a sua instabilidade com mais questionamentos.
E antes que este assunto tome outro rumo, voltemos então ao questionamento principal: o que fazer com arte, que dá margem a tantas interpretações? O que fazer quando você quer dizer algo e escutam outra coisa?
Murray Louis cita: ”A prática da arte é tão intensamente subjetiva, tão pessoal (...) que é inevitável que todos acabem sendo apanhados e aprisionados em sua própria rede pegajosa de definições. Ainda sim, há que persistir”.
Há que persistir. Há que persistir em tentar captar o que os olhos vêem e não o que seu olhar quer ver. Será possível? Será pretensão? Será que perdemos a mensagem no meio do caminho? E se ela tranformou-se? E que tal pegarmos outro rumo no próximo texto?
Um comentário:
Caroline,
A busca do bicho homem é sim pelas certezas, estabilidades, categorizações exatas, etc. É isso que, de certa forma, o move.
A questão das palavras, dos conceitos, dos movimentos é que todos carregam uma ambivalência e muitas vezes (ou quase sempre) busca-se um significado unívoco e, junto com essas coisas todas vêm muitas outras a elas atreladas. A dificuldade reside justamente nisso.
Bom exemplo pode ser visto em uma passagem do seu texto - quando você fala da necessidade de uma conclusão. Se distendermos o termo nós iremos perceber que toda conclusão é necessariamente transitória e contextual, referindo-se àquilo que foi exposto.
Mas não podemos esquecer que uma imagem, uma frase oudança não são inocentes, pois carregam consigo todo um jeito de ser e estar no mundo.
Continue com essas reflexões e também com sua partilha.
Gian
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