domingo, 4 de maio de 2008

Philippine, por Carolina Camargo De Nadai

PRA FECHAR O BIMESTRE PINABAUSHIANO E DANÇA-TEATRÍSTICO, DEIXO ESTE ARTIGO PRA VOCÊS! SOBRE:

A DANÇA TEATRO DE PINA BAUSH E A TANZTHEATER WUPPERTAL:

Nascida na Alemanha, em 27 de julho de 1940, Pina Baush dirige a Wuppertal Tanztheater há 30 anos, na qual — segundo Antonio José Faro e Luiz Paulo Sampaio — vem realizando um dos mais criativos trabalhos de dança da atualidade, sendo apontada com uma das maiores coreógrafas de nossa época.
A história da dança-teatro alemã pode ser traçada a partir de Rudolf Von Laban e seus discípulos Mary Wigman e Kurt Jooss nos anos 20 e 30. Eles acreditavam na dança teatro como uma forma de arte independente das outras e baseada na harmonia das qualidades dinâmicas do movimento junto aos percursos espaciais.

Pina Baush não nega suas influências, usando técnicas experienciadas com seus mestres e aplicando-as junto a seu próprio método de coreografar em seus bailarinos. Ela nunca se propôs a formá-los e diz que o que os une é que todos estão em busca do movimento.
Acredito que esta seja a mola propulsora para que seus bailarinos trabalhem desde cedo as qualidades dinâmicas dos movimentos, fazendo do espetáculo, uma revelação de muito trabalho e tempo. Apesar de nossa cultura ocidental acreditar que é linda a juventude, Pina mostra como são lindos os corpos maduros de sua companhia.
O enfoque de Baush para a construção das cenas — segundo Ciane Fernandes — se dá “através da técnica de colagem com livre associação. Pequenas cenas ou seqüências de movimento são fragmentadas, repetidas, alteradas ou realizadas simultaneamente, sem um definido desenvolvimento na direção de uma conclusão resolutiva”.
Segundo Pina, “Aquele que deseja responder às perguntas com a sua intimidade o faz, quem não quer, não o faz. Não crio sozinha, somos um conjunto de pessoas interessadas em compartilhar o que encontramos nas pesquisas”.(Pina Baush em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo, caderno2, 28 de agosto, 2006).
Na dança teatro de Baush é utilizado tanto o gesto cotidiano como o técnico. Portanto, os gestos se tornam elementos estéticos, por mais treinados que sejam e que aconteçam de maneira extremamente natural.
Quando os bailarinos representam uma cena que não é real, a veracidade com que é interpretada transmite confiança ao espectador. Ver aqueles corpos de Wuppertal, da Índia, do Japão, do Brasil, da França ou de qualquer outro lugar do mundo, apenas caminhando no palco, nos transmite a sensação de que eles nunca sentiram nervosismo antes de pisarem no mesmo.
Com toda sua originalidade, excentricidade, humor e sadismo, Pina Baush não espanta o público não-artista ou sem conhecimento sobre arte. Ela sabe cativar e exige profissionalismo e maturidade de seu elenco, como faz sua mestra — também alemã — Mary Wigman. Essas exigências, junto a anos de experiência, fazem com que os bailarinos confiem na cena e não desistam nunca da mesma, mesmo que tenham que repeti-la várias vezes.
O trabalho produzido é limpo e vigoroso, não deixa dúvidas sobre o que assistimos e toca os sentimentos dos espectadores por abordar temas como: amor, relação homem e mulher, infância, entre outros. A comunicação é feita por meio de códigos simples de serem interpretados, pois são despertados no público pela emoção — nos emocionamos e por isso entendemos. Podemos amar ou odiar o seu trabalho, mas dificilmente não teremos uma posição definida sobre ele.
Arnaldo Jabor, cronista do Jornal O Estado de São Paulo, surpreende com seus comentários sobre o último espetáculo da Wuppertal Dance Teathre. O escritor que normalmente salpica seu texto com palavras picantes, traz em “Pina Baush e a beleza” a doçura em suas palavras. Afirmando ter presenciado em “crianças de ontem, hoje e amanhã”, a mais pura forma de arte da atualidade, acredita que Pina Baush “conseguiu milagrosamente fazer uma arte que possa até chamar de ‘terapêutica’. Dentro de um país violento, humilhado, ansioso ela conseguiu nos dar três horas de delicadeza e paz”.
Filha da guerra fria, Pina deixa um fio de felicidade passar por entre seus bailarinos, pois criou um minimalismo afetivo, sem a frieza rancorosa de tantos artistas “engajados”. Pina vê com amor nossos clichês e aprofunda-os, salva-os, raspando-lhes a casca da repetição. Para Jabor, ela “humaniza nossos defeitos, nossos ridículos e nos oferece a própria vida reciclada com carinho, virando-nos em viajantes de nós mesmos. Seus atores/bailarinos/personagens oscilam entre desejo e repressão, entre liberdade e medo, por entre os corpos bailando, percebemos as influências mais límpidas da arte contemporânea”. Ciane Fernandes acredita que a “repetição quebra a imagem popular de dançarinos como seres espontâneos, e revela suas insatisfações e desejos em uma cadeia de movimentos e palavras repetitivas”.
Ao compartilhar da mesma opinião de Jabor, acredito que os bailarinos de Baush em cena são, sim, seres espontâneos, seres humanos que demonstram suas emoções — sofrem, riem, choram, correm, brigam, se abraçam, se beijam, amam, e sentem o que qualquer pessoa pode sentir — diferente de um bailarino clássico, que parece não ter insatisfações e desejos, que vive um repertório qual sabemos que não se passa de um conto de fadas.
Mônica Raisa Schpun — historiadora, pesquisadora e professora do Centre de Recherches sur le Brésil Contemporain — em um artigo sobre o espetáculo “Rough Cut”, afirma que a coreógrafa traz cenas em que os embates amorosos e cotidianos acabam sendo pacificados sem cair na armadilha de representações esquemáticas. O poder de encantamento que nasce da cena vem dos modos ordinários com que o elenco caminha no palco, executa seus gestos, olha e sorri com malícia e desenvoltura.
A carga poética da linguagem de Bausch concentra-se no modo com que os corpos em movimento exprimem a tensão estrutural, mas nem por isso imutável. Para tal, o repertório dos esquetes e do fraseado coreográfico é fruto da coleta de dados pelo mundo afora. Após temporadas de pesquisa, os bailarinos-atores são convidados a improvisar movimentos a partir do que testemunharam. Tudo parece um jogo, no qual as avaliações do que é real ou não ficam emaranhadas.
Esse tipo de representação, que a maioria de nós brasileiros nos apaixonamos, não foi imediatamente aplaudida pelo público alemão. Foi apenas nos anos 70, e por platéias estrangeiras, que suas criações foram recebidas com entusiasmo. Desde então, Baush impôs mundialmente a magia de sua linguagem corporal e cênica.
Ao presenciarmos um espetáculo de Pina Baush, dificilmente ficaremos com dúvidas sobre o gênero dança-teatro ou acharemos a prática dos bailarinos aquém do esperado — pois a verdadeira preocupação da coreógrafa é o movimento do bailarino.
A coreógrafa compartilha da mesma opinião de seu mestre Jooss ao cultivar bailarinos bem treinados. E não poderia ser diferente. Ao optar por uma companhia híbrida, com bailarinos com culturas e corpos distintos, Baush sabe que é necessário exibir um trabalho de qualidade e sabe como fazê-lo. Gostamos de rir e nem por isso gostamos de ser subjugados por coreógrafos que não acreditam na capacidade de interpretação do espectador. A sátira exige em dose dupla o treino, a técnica e a qualidade que Pina já nos mostrou ser capaz de fazer.
Pina incorpora e altera balé em sua forma e conteúdo, usando movimentos técnicos e cotidianos dentro do universo expressivo que criou — ela filtra seu produto final. Em seus espetáculos vemos Fellini e Chaplin, vemos Mondrian e Malevitch, vemos os irmãos Marx repetindo as mesmas “routines” de chanchadas, vemos Beckett raspado de sua depressão doentia. Vemos na cenografia o suprematismo, o minimalismo mais espontâneo, sem a exibição vanguardista. Vemos um painel amplo do melhor da criação do século 20 e, claro, tudo interpretado pela espantosa capacidade técnica dos bailarinos.


REFERÊNCIAS:

SITES:

  1. Pesquisa realizada dia 8 de agosto de 2006
  2. http://www.bravonline.com.br
  3. Pesquisa realizada dia10 de setembro de 2006
  4. <http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2767,1.shl>

5. Pesquisa realizada dia 10 de setembro de 2006 <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/cs/default.php?reg=65688&p_secao=3&di=2006-08-17

6. Pesquisa realizada dia 16 de setembro de 2006 <http://www.sosportoalegre.com.br/noticias.asp?id_noticia=535>

7. Pesquisa realizada dia 16 de setembro de 2006 <http://www.revistadadanca.pt/dancascompoesia.htm>

8. Pesquisa realizada dia 22 de setembro de 2006

  1. Pesquisa realizada dia 22 de setembro de 2006
  2. <http://www.santandercultural.com.br/imprensa/download/ReleasePinaBausch.pd>


LIVROS:

  1. PORTINARI, Maribel. História da dança. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1989.
  1. FARO, José A. e Luiz Paulo Sampaio. Dicionário de Balé e Dança.Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar Editor, 1989.

  1. FERNANDES, Ciane. O corpo em movimento. São Paulo: Ed.Anna Blume,

JORNAIS:

  1. O Estado de São Paulo, caderno 2, 28 de agosto de 2006.
  1. O Estado de São Paulo, caderno 2, 5 de setembro de 2006.

PROGRAMAS:

  1. Programa da Pina Baush Tanztheater Wuppertal, coreografia “Para crianças de ontem hoje e amanhã”. Teatro Alfa, SP, de 28 a 31 de agosto de 2006.

ARTIGOS:

17. A dança teatro de Pina Baush: redançando a história corporal.

Ciane Fernandes, professora adjunta da Pós-Graduação em Arts Cênicas da UFBA, Ph.D. e M.A. pela New York University, e C.M.A. (Certified Movement Analyst) pelo Laban/Bartnieff Institute fo Movement Studies, New York. Enfermeira e arte-educadora pela UbB.

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