sábado, 26 de abril de 2008

SOBRE IDÉIAS E AÇÕES.......Por Naiana Wöhlke Cé

“Não se refaz uma teoria, fazem-se outras”.
(Foucault, M)

Segundo Rosa Hércules, no texto intitulado Dança como produção de conhecimento, “as propriedades formais e relacionais da dança conquistam existência pela conjugação e articulação de questões provenientes de vários saberes”. Porém a autora destaca que para isso é necessária a utilização de “vários instrumentos teóricos”, citando ainda em seu texto o filósofo Karl Popper o qual diz que “todo conhecimento se origina de um conhecimento prévio”. Ou seja, é preciso que se esteja ciente de que “idéias novas” não são exatamente “idéias novas”, cem por cento originais, pois elas surgiram de algum ponto de partida, algum estímulo inicial embasado em algum conhecimento anterior.
Esta premissa de se utilizar de um conceito que já existe, e, a partir dele, criar diferentes possibilidades nada mais é senão a reelaboração de opiniões visando criar “novos” (outros) conceitos. Não se abandona um pensamento anterior, mas, a partir dele, organiza-se outro.
E é a partir deste entrelaçamento de ações e da inter-relação de conceitos que o filósofo Michel Foucault propõe, no quarto capítulo do livro Microfísica do Poder, uma série de questionamentos acerca do tema Teoria e Prática, o qual é, sem dúvida, um assunto muito discutido no meio da dança. Afinal, em que consiste a elaboração de uma teoria senão a própria ação de testar hipóteses? Discutir teoria e prática é discutir entrelaçamento de ações, já que teoria e prática são naturezas distintas de uma ação.
Em nossas pesquisas na área da dança estamos, o tempo todo, testando nossas hipóteses. Buscando entender no corpo como se dá este processo de entrelaçamento de informações, o qual ocorre de maneira simultânea, “em rede”, segundo Foucault. O que torna isso de fácil assimilação é pensar que a partir do momento que se estrutura uma teoria, automaticamente se elabora a sua utilidade, sua função na “aplicação”. E todo esse “imaginário” consiste numa soma de diferentes ações.
Não estudamos para compor um trabalho. Não coletamos informações para daí “testá-las” no corpo na forma de “ação”, movimento. Nós somos ação. Nossas verdades, nossas “teorias” estão impregnadas em nosso corpo fazendo com que a simples existência já seja uma informação a mais no mundo. Diferente de todas as outras existentes.
No âmbito da composição coreográfica é preciso sempre lembrar destas relações de troca e simultaneidade, já que toda ação carrega consigo uma informação, sendo esta última, de responsabilidade exclusiva de quem a lançou. Ou seja, o próprio artista.
A questão de responsabilidade virá a ser discutida por Paulo Paixão no texto “Alguém esteve no palco antes de você”. Segundo ele, “o conhecimento sobre a evolução dos processos de representação nos ajuda a ler o modo particular como cada obra se organiza. [...] Desse modo também é possível entender como o artista se coloca politicamente em público”.
E é deste posicionamento político que nos referimos ao destacar a importância da pesquisa antes que o artista venha a cometer o desastre de colocar no mundo uma informação “alienada”.
O essencial é saber que toda escolha é uma responsabilidade. E que tudo pode ser fonte para novos questionamentos e novas informações, fechando o círculo de entrelaçamento e inter-relações.

REFERÊNCIAS

FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Graal: São Paulo, 2004.

PAIXÃO, P. Alguém esteve no palco antes de você. Disponível em: http://idanca.net/2007/02/01/danca-contemporanea-colonialismo-brasil-europa-discurso-representacao/
Acessado em: 09/04/2008

HÉRCULES, R. Dança como produção de conhecimento. Disponível em: http://idanca.net/2008/02/21/epistemologia-em-movimento/
Acessado em: 09/04/2008

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