sexta-feira, 23 de maio de 2008

A bela Adormecida - Gênise do Balé


LEANDRO AUGUSTO PETERSEN VIEIRA


"Quando o balé de Tchaikovsky A Bela Adormecida foi representado, o público adorou.
Dizem que, na época, os petersburgueses não se cumprimentavam com um "bom dia", mas sim saudavam-se dizendo: já viu A Bela Adormecida?"


Baseada num conto de Charles Perrault, bem ao estilo francês do século XVIII, “A Bela Adormecida” está construída para grandes espectáculos, exigindo uma numerosa e muito bem treinada companhia composta de corpo de baile, solistas e principais bailarinos de alta escola para a interpretarem dentro das verdadeiras normas técnicas e estilísticas do bailado clássico. Estreada em S. Petersburgo, a 3 de Janeiro de 1890, nunca deixou de estar presente nos programas das grandes companhias, tendo sempre como base a coreografia original de Marius Petipa, embora com versões diferenciadas. A relação da música de Tchaikovsky com a coreografia de Petipa é de tal forma perfeita que seria difícil imaginar outra leitura da partitura com outro movimento que não aquele que em conjunto fizeram com que esta obra fosse considerada a “catedral da dança clássica”. “A Bela Adormecida” marca o primeiro encontro entre Petipa e Tchaikovsky. Durante os treze anos que decorreram após a estreia de “La Bayadère”, o ballet russo foi o único guardião das tradições do academismo e revelou-se como centro mundial do seu desenvolvimento, do seu enriquecimento e da sua produtividade continuada. A primeira ideia de realizar “A Bela Adormecida” é de Vsevolojsky, director do Ballet Imperial, admirador da arte francesa do século de ouro do Rei Sol. Ele anuncia as tendências futuras do Ballet de Diaghliey, onde se nota esta mesma curiosidade pela arte francesa do século XVIII. Assim, cada um dos quatro actos, como movimentos de uma sinfonia, contém a sua própria coerência formal com uma existência autónoma. No entanto, não se pode apreciar o seu autêntico valor senão na relação entre as quatro partes. Mesmo retirando todo o envolvimento teatral da obra, “A Bela Adormecida”, na sua arquitectura musical e coreográfica, é considerada o exemplo mais puro do bailado clássico como património universal.

A Bela Adormecida, sem dúvida, foi a grande obra que marcou o apogeu da Rússia dos Czares, além de ser o grande sucesso de Tchaikovsky em vida (O Lago dos Cisnes parece ter superado A Bela Adormecida em sucesso, mas isso aconteceu somente depois da morte do compositor). A ambientação da obra, em castelos reais, com personagens grandiosos e fantásticos, marca a força da Rússia na época. A produção da obra foi feita em conjunto pelo coreógrafo, figurinista e o compositor, por isso o resultado é uma integração tão perfeita entre os três elementos. São características especiais da obra as variações muito ricas em técnica, especialmente a da Fada Lilás, que Petipa construiu para sua filha, Marie Mariusovna Petipa. Outra curiosidade é que a fada do mal, Carabosse, costuma ser apresentada por um homem, provavelmente para ficar mais grosseira e pesada. A grandeza da obra fez com que três dos seus Grand Pas-de-Deux se tornassem independentes, sendo apresentados por grandes bailarinos de todo o mundo em espetáculos de gala, sem o resto do ballet.

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