segunda-feira, 5 de maio de 2008

ENCONTROS E DESENCONTROS

Percebo que a dança está passando por um período de transição, aonde vem se discutindo à importância do corpo que dança, no aqui e no agora. Hoje é impossível falar de contemporaneidade sem se falar em corporeidade, pois já se sabe como o corpo se relaciona com o ambiente ao seu redor, embutindo conceitos, pensamentos e idéias que variam conforme a localização e a época. E ainda bem que ao longo de sua história, o entendimento de movimento em dança sempre esteve mergulhado em constantes processos investigativos. Assim como qualquer outra área, a dança também sofre influências dos contextos sociais, políticos e históricos nos quais está inserida. É desta forma que ela se faz presente em pleno século XXI, embora tenha surgido com os povos primitivos há alguns séculos antes de Cristo. Relacionar a arte dança com o contexto atual é de extrema valia para que esta arte continue se desenvolvendo. Não podemos parar no espaço e no tempo. A dança, hoje, retrata as ansiedades, idéias, necessidades e interesses da nossa época. O movimento é a resposta que se dá ao mundo em função dos estímulos externos e internos recebidos, do desejo de realizá-los e da compreensão da sua execução.
Atualmente se fala muito em improvisação, um processo do qual eu gosto muito. É um meio de fazer com que cada artista descubra as possibilidades e os limites que o seu corpo apresenta, sabendo que esses limites não são limites, e sim oportunidades a serem exploradas de maneiras diferentes, de acordo com a vivência corpórea existente em cada um. Improvisar é sinônimo de criar. Saber que isso gera vocabulário corporal, é fundamental para o crescimento artístico.
No meu TCC estou pesquisando se a dança pode contribuir para desenvolver a sensualidade em mulheres mais maduras e conseqüentemente fazer com que elas se sintam mais desejadas, mais seguras e mais bonitas, aumentando assim a auto-estima. Para mim está sendo um desafio, porque a amostra é composta de mulheres que não dançam, com idades variando entre 40 e 56 anos e que ainda por cima tiveram um ensino religioso muito rigoroso, no qual se aprendia que a relação sexual devia ser praticada com o intuito de procriar.
Está sendo gratificante no sentido de que a cada novo encontro, me deparo com situações inusitadas e que me instigam a procurar novos métodos ou processos de desenvolver este trabalho. Ao invés de eu conduzir o estudo, muitas vezes elas estão me fornecendo os caminhos. É incrível como a troca de experiências vem acontecendo. Saí de um encontro convencida de que estava no caminho certo, mas no próximo, bastou o comentário de uma delas para que eu repensasse a minha proposta. Nasce então um trabalho direcionado à re-descoberta do discurso infinito do corpo, no sentido de estimular estas mulheres a fazerem suas próprias buscas em si mesmas. É um despertar do corpo através de um roteiro daquilo que verdadeiramente existe dentro de cada uma delas, e que por inúmeros desencontros com a vida, ficou no esquecimento. Pois para mim, a dança como forma de linguagem corporal e arte do movimento expressivo comunicativo é também uma área de grande promoção humana.
Para que se possa compreender e desfrutar estética e artisticamente a dança, é necessário que nossos corpos estejam engajados de forma integrada com o seu fazer-pensar. Portanto, continuemos indagando, pesquisando e refletindo. O importante é não se acomodar.

Nenhum comentário: