terça-feira, 6 de maio de 2008

Corpo em cena - Manoela de Paula Ferreira


Maria Mommensohn em seu artigo “Corpo Trans-lúcido: uma reflexão sobre a história do corpo em cena” aborda a questão do corpo como sendo um suporte para um personagem e a forma como este corpo se prepara para tal tarefa. Atualmente o bailarino precisa saber dialogar sobre e entre várias linguagens e estar aberto à conversa com o público, pois seu lugar não é mais somente a “caixa preta”, hoje este espectador é agente ativo no cenário coreográfico. A autora mostra que a arte é uma forma de se pensar conscientemente e que nossas ações estão diretamente ligadas ao social, sendo este o “promovedor” de nossos gestos. Coloca também que estamos a todo o tempo formando informações entre a mente e o corpo, não sendo possível relação de movimento sem uma dessas partes. Ao longo do tempo segundo a autora, desenvolvemos signos para nos relacionar e estes, são movimentos encontrados em nosso dia-a-dia, que nos mostram quão ligados estamos a percepção por gestos. Aponta Laban como sendo o decodificador deste movimento humano que faz falar o corpo, e mostra sua contribuição não para uma técnica, mas para o estudo das potencialidades do nosso organismo.
Ao longo das décadas podemos ver como a sociedade se desenvolveu, notamos o avanço robótico e permeado a isso o pensamento manteve-se como peça chave para os domínios do homem. Junto a essa tecnologia surge também a necessidade de se conhecer em particular o indivíduo, para assim poder melhor constituir suas relações de seu movimento com o ambiente em que está inserido.
Quando falo em movimento e pensamento, falo de um processo necessário na mente humana para codificação e decodificação dos signos trazidos pela sociedade. No bailarino isso vai além. Ao dançar ele cria uma realidade “fictícia” e para poder representar seu papel forma um personagem que terá por ele, vida. “O conhecimento artístico tem a maior liberdade de explorar não somente a realidade, mas o que poderíamos achar de possibilidade do real” (VIEIRA, 2000). É uma forma interessante de falar como o bailarino pode articular seus pensamentos, não diria que é uma maneira fácil, ao passo que nos responsabilizamos pelo apresentado precisamos ter consciência do quê, para quem e qual a função da dança na sociedade para que nossa arte tenha significado. (FAHLBUSCH, 1990).
O bailarino que estuda seus movimentos e os signos da sociedade, já tendo o conhecimento das potencialidades corporais trazidas por Laban e aprofundadas por outros estudiosos, pode criar e recriar ações no ambiente em que vive. “Os modos com que pensamos e sentimos são verdades co-contruídas no tempo-espaço..., comprometidos com o espírito de uma época histórica” (MOMMENSOHN, 2006) O estudo do corpo e sua compreensão da sociedade e do pensamento transforma e reorganiza informações no indivíduo que muda e formula novas idéias para suas próximas ações e modificações. Isso pode ser um dos motivos que faz com que nossa dança seja nova em cada momento, pois a cada minuto nos organizamos e exploramos o ambiente de uma maneira diferente, através de um novo olhar.


Manoela de Paula Ferreira


Referências Bibliográficas:

FAHLBUSCH, H. (1990) Coreografia. IN. FAHLBUSCH, H. (org). Dança Moderna Contemporânea: Rio de Janeiro: Sprint;

GOMES, S. L. (2006) A aranha baba e tece a teia ao mesmo tempo. IN. MOMMENSOHN, M e PETRELLA, P. (org). Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento. São Paulo: Summus;

MOMMENSOHN, M. (2006) Corpo Trans-lúcido: uma reflexão sobre a história do corpo em cena. IN. MOMMENSOHN, M e PETRELLA, P. (org). Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento. São Paulo: Summus;

VIEIRA, J. A. (2000) Formas de conhecimento: arte ciência. Salvador. Programa da Pós graduação em artes Cênicas da UFBA;

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