sexta-feira, 27 de junho de 2008

..Balé e suas 'utilidades'..

Por Angélica Gallardo

Quando se pergunta a uma criança o que ela quer ser quando crescer pelo menos 50% das respostas, entre as meninas, é “ser bailarina”, mas infelizmente muitas dessas crianças não terão a oportunidade de entrar em nenhum contato com a dança, e assim, seus sonhos vão sendo esquecidos ou simplesmente tornam-se outra coisa. A autora Maria Virgínia traz reflexões muito pertinentes e necessárias à comunidade brasileira, pois todas as pessoas são carentes quando se fala em corpo, muitos não se tocam, não se conhecem corporalmente, não imaginam que o corpo transcende tudo o que a ela vive socialmente, psicologicamente e emocionalmente. Nossa cultura não estimula a atenção para o corpo, somos “domesticados” pelas massas a pensar que o corpo não passa de um meio para a atração sexual. O corpo é muito mais do que isso!! E é exatamente esse “mais” que precisa ser mostrado para as pessoas.

A dança pode ser uma estratégia de sobrevivência e luta, criando ações e produzindo sentimentos de cidadania. O homem se educa, se politiza, se torna cidadão fazendo arte. O balé clássico tem como uma de suas funções, trazer para a contemporaneidade princípios éticos de concentração e disciplina para o trabalho corporal que, contribuem para a formação do cidadão dançante, e a partir do corpo e dessa técnica, aumentar a auto-estima e a possibilidade de uma melhoria na qualidade de vida das pessoas que a praticam.

Uma das coisas que mais afeta o pensamento humano é a globalização, pois um de seus piores afeitos no indivíduo é a homogeneização do gosto, ou nivelamento do gosto pela média. “Os grandes agenciadores globais não só induzem e pasteurizam o gosto do individuo, como também produzem as necessidades, ameaçando as diversidades culturais”.(Humberto Eco)

É típico e nítido observar nas comunidades brasileiras as constantes influências da mídia, pois tudo entre as pessoas é igual, os sons, as roupas, os assuntos. O pior é que muitos nem se dão conta de que estão sendo manipulados por ela. Enquanto se comportam como robôs humanos perdem tempo para testar conhecimentos, adquirir virtudes e desenvolverem sua criatividade.

Já está mais do que na hora da dança clássica entrar nessas comunidades abrindo espaço para novos pensamentos, atitudes e motivações de vida. O que é preciso deixar claro é a dificuldade de inserir o balé em alguns lugares, pois existem resistências muito fortes de algumas pessoas, que não dão abertura para que algo em sua vida possa mudar. Neste momento é que entra a questão do como levar o balé clássico em ambientes que não são os convencionais e onde, muitas vezes, não existem pessoas que se possibilitam vivenciar e desfrutar dessa técnica de dança.

A dança amplia sim, e muito, os pensamentos, as noções de corporalidade, a musicalidade, mas apenas transforma aqueles que se permitem ter a chance de mudar o mundo em que se vive. A dança não faz milagres, ela norteia valores, questões e sensações humanas.



Texto base: "O ensino do balé clássico a serviço do corpo cidadão" (Maria Virgínia Matos Oliveira Costa)

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