terça-feira, 10 de junho de 2008

Corpo, único que Dança

Este é o início da minha pesquisa e do que eu quero para meu artigo final, no momento é a idéia que está sendo trabalhada em mim e que quero "por na roda"!!!


É através das percepções pessoais que o corpo adquire vocabulário para transformar em movimento suas indagações, inquietudes, sentimentos, emoções etc. Segundo Vianna, “a vida, o mundo e o homem manifestam-se através do movimento” (Vianna, 1990, p.13). Com o vocabulário que o corpo adquire ao longo de suas percepções ele compreende e entende a si mesmo e o ambiente em que está inserido. É através deste corpo que as informações penetram no indivíduo e é por este corpo que o indivíduo se relaciona com o ambiente. Há nessa relação uma constante troca, então, sempre que o corpo se movimentar em dança ele estará colocando informações no ambiente que, com isso se modificará e reverberará mudança na organização do próprio corpo que dialogou com o espaço (ambiente).
A dança pode ser compreendida como um ambiente constituído a partir das diferentes relações e percepções de processos que o corpo como agente deste ambiente propõem. Sabendo-se que cada corpo sofre diferentes influências, possui diferentes potencialidades tanto físicas quanto psíquicas e teve um amadurecimento corporal único, é possível imaginar que o corpo será sempre único em sua dança e em sua organização corporal. Para descobrir este corpo que transforma a dança em comunicação e permite transformação de ambiente, é necessário que o homem conheça o vocabulário que lhe é próprio, podendo assim, dialogar com o espaço que o cerca. Um dos instrumentos para esta descoberta é a escuta deste corpo e seus movimentos. Para que haja esta descoberta de corpo é preciso que nos desvencilhemos de qualquer artifício que não seja natural do corpo, como por exemplo, técnicas que codificam o corpo não o tratando como único e deixando suas características próprias de lado. Para Vianna é a dança que consegue exprimir os sentimentos do homem, ela é uma reflexão sobre o homem (Vianna, 1990, 11). É a dança investigativa do corpo que através de seus movimentos expressa a emoção do homem e não uma técnica com formas padrões de movimento que desconhece a unicidade do indivíduo.
Nesse sentido é importante salientar que cada indivíduo é único. Todos possuem características físicas, sociais e psicológicas diferentes. Desta forma, a percepção das experiências da vida de um indivíduo é sempre singular. Sendo assim, a movimentação efetuada por cada corpo resultará em um modo único de expressão na arte da dança, uma vez que tal expressão, na verdade, constitui-se de um reflexo de tudo aquilo que naquele corpo foi experenciado. Nesse sentido, Vianna coloca que:
“O corpo humano permite uma variedade infinita de movimentos que brotam de impulsos interiores e se exteriorizam através do gesto, compondo uma relação íntima com o ritmo, espaço, o desenho das emoções, dos sentimentos e das intenções. Mas, se a dança é um modo de existir, cada um de nós possui a sua dança e o seu movimento original, singular e diferenciado e é a partir daí que essa dança e esse movimento evoluem para uma forma de expressão em que a busca da individualidade possa ser entendida pela coletividade humana.”(Vianna, 1990, p.88).

Segundo Mendes, “Dança é basicamente movimento, movimento e gestos.”(Mendes, 2001, p.6). Além disso, na concepção de Gualberto, para que a dança seja arte é necessário que haja uma intenção em seus movimentos, uma inquietação, uma conscientização do que é feito (Gualberto, 2004). Todo o movimento do homem pode ser dança se organizado como uma forma de "fala" e expressão. Dança é comunicação, é troca de informação, é “uma arte profundamente simbólica capaz de sugerir, ilimitadamente, imagens e associações cheias de riqueza e vitalidade, dada a natureza de sua forma de comunicação, não racional.”(Mendes, 2001, p.10). Da mesma forma que a Dança não possui uma forma, o corpo que a executa não precisa seguir uma técnica pronta em formas de execução, totalmente codificada, para a expressão em Dança. O corpo precisa “falar” apenas e tão somente da maneira que melhor demonstre seus conceito e sua experiências o que ele pensa.
A dança sempre foi utilizada pelo corpo como forma de arte e desabafo, ela é a arte “mais capaz de exprimir tanto as fortes quanto simples emoções sem o auxílio da palavra”(Mendes, 2001, p.10). Não que na dança apenas expressemos sentimentos, mas ela é a forma que o corpo tem de com ele próprio se comunicar e tornar visível uma idéia.
A possibilidade de termos uma maneira própria e por isso única de expressam com dança que me instiga, não quero conceitos prontos de formas estéticas específicas, busco com meus dançarinos a maneira natural que cada um encontra dançar. Dentro desse dançar, preciso e acredito que seja necessário romper com o que compreendo como Belo para não colocá-lo como ponto de seleção de formas, pois o que realmente tem que ser transmitido é o movimento natural de cada corpo único, para assim atingirmos o Movimento Genuíno.
Para que os corpos se sintam livres para suas investigações corporais, é preciso antes reconhecer que “harmonia não está relacionada ao“Belo”, mas ao invisível contido no visível” (Apud, REIS, 2003, p. 131). A harmonia se dá na verdade do que é mostrado, na concordância que existe entre o interno e o externo do corpo. A representação dessa verdade do movimento não existe se for apenas uma seqüência de passos sem significado para o corpo que o executa. Aqui não condeno as técnicas de dança com formas estéticas pré-formatadas, apenas em meu trabalho, busco encontrar o movimento que flui do corpo sem a necessidade de formas vindas de fora. Tenho uma grande bagagem de dança clássica em relação à dança contemporânea, com isso para mim é um exercício encontrar a movimentação natural do meu corpo e principalmente passar essa informação sem contaminá-la com formas fixas para meus dançarinos que por mais que não tenham formação em dança, são observadores dessa arte e a compreendem como apenas sendo detentora de formas fixas, claras e belas. É nesse lugar de descoberta de corpo deles e meu que me encontro hoje...
Manoela de Paula Ferreira

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