quinta-feira, 26 de junho de 2008

Você é o que você comunica


É mais que nítido e claro o valor de uma postura conveniente no palco, não é necessário conhecer a fundo Dança para se chegar a tal conclusão. Mas será que isto é tão claro quanto a necessidade de se manter uma postura conveniente... na platéia? Não está falando-se em como aconchegar se em uma cadeira estofada, muito menos em como manter a conexão “cabeça-cóccix” ao assistir um espetáculo. Está se ressaltando o fato de como comportar-se depois de assistir um obra. Sim, depois, depois de assistir um espetáculo que provocou embrulho no estômago, Catharse ou o nada mesmo: O que fazer com tudo isto que o espetáculo ativou?
É mais que comum deixarmos nossas emoções falarem mais alto e taxarmos as obras assistidas com classificações que variam de uma “porcaria”, horroroso a magnífico e coisas do gênero. A dança é arte, arte é relativa, relativa e relacionada a gostos. O texto de Antonio José Faro, “Apreciações criticas de dança”, retrata exatamente isto: Etiqueta da platéia, um manual de boas maneiras de como manter se publicamente em um espetáculo. Provavelmente quase nenhum leigo em dança terá acesso a este texto, mas pelo menos a classe dita “artística” deveria considerá-lo uma bíblia. Por que, oras, não sejamos ingênuos! Falando profissionalmente, será que algum artista acredita que venderá sua dança apenas enquanto estiver executando-a? Acredita que não é um outdoor diário e não é avaliado ao portar se publicamente?
O texto de Faro, com linguagem simples, poderia ser realmente uma sugestão de como o artista deveria manter publicamente, fora de cena (ou apenas que tentasse manter): Que repense suas atitudes, que leia um pouco sobre ética.
Gosto não se discute. Mas por que tendemos a comparar obras, tendemos a taxar, a classificar se é ou não é, a acreditar que somos donos da verdade? Não há artista que nunca tenha feito isto! Mas você que o faz (me incluindo inteiramente nesta imploração), pense que se deva cuidar mais destas ações involuntárias e instintivas.
O autor dá algumas dicas fundamentais, simples, e dificílimas de serem seguidas verdadeiramente:
“O ideal é que o apreciador possuísse conhecimentos históricos e técnicos que lhe permitissem usufruir plenamente o espetáculo representado a sua frente”p.130.
Tendemos a “achismos”, a “como eu faria” se estivesse utilizado tal luz, tal tema, tal bailarino. Apenas o que o “eu” gosta é que é “certo”. Tais avaliações podem ser úteis sim, mas para auxiliar a fazer e como não fazer a SUA arte. Quando o EU for criar, aí ele repensa em como montar tal tema, tal iluminação...
O critico não deve ser um castrador de vontades de cada um”p.133.
Esteja preparado para tudo. Quem sabe aquele senhor de óculos ali, atrás de você, na poltrona quinze, gostaria de contratá-lo, e quem sabe suas gargalhadas de menosprezo o demitiram na hora.
“O ser humano que não é capaz de viver em sociedade ou é um Deus ou é uma besta”.
Aristóteles



REFERÊNCIAS

-ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos:Livro 1..

-FARO, Antonio José. Pequena História da Dança:Apreciações criticas da dança Ed.Jorge Zahar: Rio de Janeiro, 1986.

-HUHNE,Leda Miranda(org)Ética e seus paradigmas.Vapê.RJ,1997.

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