quinta-feira, 26 de junho de 2008

Festivais de dança: um lugar para tecer novas redes.

por Clarissa Cappellari

O ato de pensar a dança como área de conhecimento já é uma questão bem antiga, principalmente na Europa, o berço da dança clássica. Volta e meia me pego questionando-me o que é esse “pensar a dança”, e até o presente momento, poderia dizer que, em minha opinião, o pensar a dança nada mais é que articulação. “...articulação proveniente de vários saberes” (HÉRCULES). O mundo vive em redes, e essas ligações fazem que aconteça o amadurecimento e o real entendimento do corpo contemporâneo para não mais haver trabalhos de dança sem uma justificativa, sem um questionamento para ser respondido no próprio corpo e na cena.

Os tradicionais festivais de dança (aqueles amadores que reúnem várias escolas e academias de dança de diversas partes do país) são uma maneira bem acessível de circulação de informações. Apesar de ainda ser um lugar onde a grande maioria dos participantes de fato não pensa a dança e apenas reproduz movimentos, o espaço para quem pesquisa a dança está aumentando cada vez mais nos festivais.

Cito como exemplo o Festival de Dança de Joinville, que é o maior e o um dos mais tradicionais festivais de dança do Brasil. Lá já houve um tempo em que participavam apenas academias e escolas com seus trabalhos coreográficos. Agora já temos cursos para quem quer ser crítico de dança (um novíssimo e importante espaço para articulação entre pessoas de diferentes áreas), oficina de dança digital, uma mostra paralela de grupos de dança contemporânea (que segue simultâneamente com a mostra competitiva desse festival) onde são selecionados trabalhos de diversos lugares do Brasil e de diferentes linguagens de movimento/pensamento, e mesas redondas que falam sobre diversos assuntos, coordenadas por pesquisadores da dança de diferentes lugares do Brasil, afinal, num país tão grande como é o nosso a dança tem muito a crescer e se propagar. Com as discussões que nascem nessas mesas redondas, podemos ver que a relação da teoria/ prática é uma constante. Teoria e prática não se separam. “ A prática é um conjunto de revezamentos de uma teoria a outra e a teoria um revezamento de uma prática com a outra” (FOUCAULT).

“É comum em nosso país trabalhadores da arte cujos conhecimentos sobre a área são restritos ao tempo em que eles estão ligados à atividade e segundo a geografia na qual eles pertencem e atuam” (PAIXÃO, 2007). Os festivais de dança reúnem pessoas de todos os cantos do país, cada qual com sua identidade. Essa geografia da dança difere muito uma região da outra, mesmo porque tem regiões onde as informações chegam e acontecem muito mais rápido que em outras. Não teríamos como comparar São Paulo com Acre, por exemplo.

A dança, o corpo e o pensamento estão em constante mutação. A dança no Brasil se transforma e amadurece a cada dia. “ O movimento está constantemente ocorrendo mesmo que não ganhe visibilidade” (HÉRCULES).

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