domingo, 6 de julho de 2008

SOBRE A VERTICALIDADE EM QUESTÃO

por Thábata Liparotti

A verticalidade na dança é uma questão que vem sendo discutido tema de debates no nosso meio. Desde o dualismo existente nesta verticalidade, passando por relações de poder, negação, a queda e recuperação, o ir ao chão, o estudo dos eixos, níveis, chegando por fim no subir e descer.
Atualmente em nossas aulas de Dança Contemporânea temos repensado sobre os conceitos de queda, peso passivo e ativo, sobre a pressão necessária para subir e descer, o ceder e empurrar. Todos estes pontos e as reverberações que estas geram sobre os corpos são importantes questões que tenho pesquisado em meu trabalho.
Por ter escolhido pesquisar a adaptabilidade do corpo no ambiente, e este ambiente que trato ser o da montanha a verticalidade imposta é incontestável. Por isso tenho buscado elencar todas as questões pertinentes a esta verticalidade.
A primeira delas é a própria inclinação do terreno que coloca os corpos numa posição de busca do equilíbrio constante. A segunda é a intenção de subir e descer a montanha que exige deslocamento de maneira que um passo não é igual ao seguinte. Outra questão que surge desta é a necessidade de troca de apoios e o jogo de peso, que se dá principalmente pelo posicionamento do quadril.
A pressão que é necessária para suspender o corpo também é diferenciada visto que o uso das mãos é de extrema importância, não tendo estas uma função expressiva e sim bastante funcional. Esta evidencia para as mãos ocorre principalmente na escalada. Também nela o fato de estarmos suspensos por uma corda faz com que a relação de peso mude. O peso passivo nesta situação toma uma nova dimensão visto que não há impacto com o chão no final da queda. Além de alterar sua percepção de peso que segundo a lei da gravitação universal da mecânica newtoniana faz com que a gravidade diminua e consequentemente a sensação de peso também.
A verticalidade, portanto, traz atrelada a ela uma nova perspectiva de estudo que necessita de adaptação corporal. Levando ainda em consideração que para o senso comum a dimensão vertical é ainda vista como associada a riscos que são potencializados pela ação da gravidade gerando uma relação de medo referente a esta dimensão. Apesar do mundo ser tridimensional a exploração da verticalidade é ainda pouco familiarizada, iniciando a relação de medo já na infância quando crianças buscam subir em muros e árvores e são reprimidos por suas mães preocupadas. Este trecho escrito por um montanhista aponta algumas destas questões:
“O fato é que as pessoas não se deslocam na vertical. Máquinas como elevadores ou escadas rolantes fazem com que planos carreguem elas para cima e para baixo. Deslocar-se na vertical por conta própria (escadas) associa este esforço ao desconforto físico. As pessoas simplesmente não gostam da dimensão vertical.
Pessoas que exploram a dimensão vertical como alguns trabalhadores de altura e esportistas da verticalidade, vivem, então em um mundo diferente, o mundo do risco, do medo, do desconforto. Como querer que sentimentos tão desagradáveis se tornem palatáveis para a maioria das pessoas? Com isto, vocês, montanhistas, sempre serão vistos como seres estranhos para o resto da humanidade. Vivem em mundo à parte, seu prazer inverte à escala de valores da humanidade. Acostumem-se a isto.”
Concluindo então que o estudo desta verticalidade implica em uma série de fatores como a desmistificação, a reorganização de padrões e novamente a adaptação do corpo a esta nova dimensão. Na busca de levar a dança contemporânea para o ambiente. Em suas relações com a permanência e construção de conhecimento buscamos um corpo mais adaptativo que responda a proposição de problemas criados com um mesmo domínio de fatores de movimento na criação de uma obra artística. Sendo para mim uma intrigante questão de estudo.

2 comentários:

Branco Balé disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Branco Balé disse...

Parabéns Thábata pelas informações que são tão necessárias para os curiosos, admiradores, praticantes e estudiosos em verticalidade, rapel e dança. HJ temos raros documentos a respeito dessas áreas, no entanto temos uma tarefa em aumentar esse número! Se vc tiver algum artigo neste campo, por favor, divulgue p ampliarmos este quadro mínimo de informações.