segunda-feira, 29 de setembro de 2008

DANÇA E TECNOLOGIA: LINGUAGEM HÍBRIDA LIMITA OU POSSIBILITA MÙLTIPLAS RELAÇÕES?

Como estudante do 4º Ano do Curso de Dança da Faculdade de Artes do Paraná, tenho me deparado com questionamentos acerca das vantagens ou desvantagens do uso da tecnologia na dança.
A minha dança é híbrida, pois o jazz agrega vários estilos que vem a somar, mas paradoxalmente, quando se trata de agregar tecnologia à dança, surpreendo-me com a resistência que tenho em utilizá-la, considerando que todo o movimento surge para a satisfação de um desejo humano, e que quando alguém dança, este desejo é o de expressar-se, comunicar aquilo que está dentro de cada um. Além do mais, a dança como manifestação artística, é efêmera, acontece uma única vez. Cada ação sempre leva a uma nova possibilidade, mas nunca retorna ao que foi realizado.
Apesar destas considerações, tenho consciência de que neste ritmo estonteante de novidades que a evolução tecnológica proporciona, a dança não pode ficar à margem.
Atualmente, o diálogo da dança com a tecnologia é inevitável. Dança é comunicação. Se antigamente entre o surgimento da linguagem e o da escrita, sucederam-se 1400 gerações, hoje, no intervalo de vida de uma mesma geração novos paradigmas tecnológicos são inventados e reinventados. A linguagem corporal também evoluiu e assume nos dias atuais uma nova tendência que passa a ser entendida como linguagem híbrida. Nessa tendência, o corpo que dança pode tanto limitar quanto possibilitar múltiplas relações.
Segundo Lévy (2003), compreender o corpo e a dança atualmente, é compreender o imaginário da cibercultura: não só a desmaterialização, mas também as possibilidades textuais, a interatividade e a circulação de informações por redes interplanetárias.
Entretanto, o filósofo Jean Baudrillard parece discordar radicalmente de Lévy ao se referir à questão da interatividade. Enquanto Lévy defende a idéia de que a imagem (corpo) perde a sua exterioridade de espetáculo, para abrir-se infinitamente à imersão, permitindo a participação da platéia(usuário) e considerando-a como co-autora da obra, Jean Baudrillard chega ao extremo de afirmar que “não existe interatividade com as máquinas (tampouco entre os homens..., e nisso consiste a ilusão da comunicação). A interface não existe. Sempre há por trás da aparente inocência da técnica, um interesse de rivalidade e dominação” (BAUDRILLARD, 2002, p. 117). Nesta mesma linha de pensamento, Erick Felinto, numa releitura de Virilo e Ken Hillis irá afirmar: “O discurso tecnocientífico, ao se manifestar como religiosidade (refere-se a Lévy e outros defensores da cibercultura) de uma época desencantada ou reedição tecnológica de credos gnósticos, faz desaparecer no horizonte do pensamento a materialidade e a corporalidade necessárias ao seu ancoramento no real”. (FELINTO, 2003, p. 60-61). Afirma ainda que “por trás das utopias acríticas e dos desejos de imaterialidade esconde-se a possibilidade de uma tirania digital, que suprimindo de seus discursos o corpo, encontra assim, novos e sutis modos de controlá-lo”.
Se para os filósofos tecnológicos positivistas a arte digital na rede ou em aplicativos de CD-Rom, procura levar ao extremo o potencial comunicativo e interativo, para Baudrillard e Virilo esta interação e trânsito fluído entre autor e receptor, esta imersão interativa do espectador anuncia não o apogeu da arte, mas a sua morte. “Quando todos se convertem em atores (pode-se por analogia considerar os coreógrafos – no caso da dança), não há mais ação. Fim da representação. Morte do espectador. Fim da ilusão estética” (BAUDRILLARD, 2002, p. 130).
Contrariando estas previsões catastróficas, Santaella afirma: “Com a entrada na era digital e virtual, o espaço real em 3D no qual o corpo se movimenta, dilata-se sob o efeito do transporte da mente pelos espaços multidimensionais da ciber-realidade. Entre esta dimensionalidade dilatada e o espaço real em 3D, o corpo torna-se uma superfície intermediática, torna-se um meio e uma mediação entre o presencial e o virtual, adquirindo ele mesmo uma nova dimensão multiplicada”. (SANTAELLA, 2004, p.74).
Percebo que esta hibridação deu origem a um novo sistema, que não é apenas corpo, tampouco se restringe à tecnologia. Esse tema mostra-se atual e questionador, no universo das práticas artísticas e corporais. Perceber como a dança, assim como outros inúmeros fenômenos artísticos, dialoga com as novas tecnologias possibilita observar modificações não só na própria arte, como também nas fronteiras que se estabelecem entre ser humano e máquina. Até que ponto isto tudo é benéfico, o tempo dirá, mas uma coisa é certa: a história nos mostra que as civilizações nunca voltaram para trás e Derrick de Kerckhove define de maneira singular o atual momento em que se dá a evolução da tecnologia. “Vivemos em estado permanente de inovação, e não é possível detê-la”.

Um comentário:

Laura disse...

Olá!

Gostei bastante do seu texto! Tem muito a ver com que estou estudando sobre liguagens híbridas e convergência de mídias!

Apenas sugiro que mude a fonte, ou talvez o fundo porque a visualização está difícil.

Ótimo text!

Laura.