terça-feira, 9 de setembro de 2008

Um pouco do que eu pretendo fazer para mim e para meus bailarinos dançarem
O Movimento Genuíno e o Sistema Laban/Bartenieff
Na busca do movimento corporal natural e singular
Manoela de Paula Ferreira

Criado entre 1950-1960 por Mary Starks Whitehouse o Movimento Genuíno, segundo Reis, “consistiu na investigação das conexões entre a psicologia junguiana, por meio da Imaginação Ativa e os símbolos e conteúdos revelados no movimento corporal” (REIS, 2008, 122). O movimento Genuíno é uma maneira de improvisação, que trabalha com as possibilidades de movimento do corpo fazendo com que ele tenha uma livre criação, estando conectado com o interno (seu corpo) e externo (espaço que o rodeia), numa relação sem fim, como no modelo Conceitual do Anel de Moebius[1].
Esta técnica busca a escuta corporal e o que esses impulsos internos tem de movimento que até então eram escondidos por movimentos vindos como resposta a agentes externos ao corpo. São utilizadas para isso nas execuções de movimento as relações entre o espaço interno (impulso corporal) e externo (corpo em movimento no e com o espaço). Nessa investigação, nada externo ao corpo que possa ser um estímulo é utilizado, permitindo assim que ele se movimente do seu modo. A ausência de música, ou qualquer forma de som (fator externo), faz com que o corpo busque nele a relação consigo e com o espaço, sem a soberania da “mente pensante”.
Do mesmo modo o sistema Laban/Bartenieff trabalha com a escuta do corpo ao nível de interação e conexão. Este sistema foi desenvolvido por Irmgard Bartenieff (discípula de Laban) com a colaboração de Warren Bamb (aluna de Laban) que se basearam nas pesquisas de Rudolf Von Laban (Bratislava 1879- Inglaterra 1958). Laban “deu início ao delineamento de uma linguagem apropriada ao movimento corporal, com aplicações teóricas, coreográficas, educativas e terapêuticas” (FERNANDES, 2001, p.9).
O Sistema Laban/Bartenieff une quatro categorias Corpo, Expressividade, Forma e Espaço, sendo Corpo, referente ao que se move, baseado nos princípios e práticas desenvolvidas por Bartenieff e sua aluna Bonnie Baibridge. Expressividade é o como nos movemos, trata-se das teorias e práticas desenvolvidas por Laban, em que as qualidades do movimento expressam a atitude interna do indivíduo com relação aos quatro fatores: fluxo, espaço, peso e tempo. Forma é o como nos movemos, refere-se a mudanças no volume do nosso corpo em movimento em relação a si mesmo e aos outros corpos. Pode ser dividido em três tipos: forma fluida, forma direcional e forma tridimensional. Espaço, desenvolvida por Laban, refere-se a onde nos movemos, é a arquitetura do espaço no movimento humano.
Segundo Reis (2008, p. 23) “originária de uma visão holística (da Educação Somática) este sistema integra o corpo do ser humano em movimento com e no espaço (interno, de seu próprio corpo e externo, no espaço dinâmico)”. Há também uma interrelação entre corpo, mente e emoções nesse ambiente de encontro entre o externo e o interno ao corpo que se vê aplicado o modelo Conceito de Moebius. É essa relação que permite que o corpo interaja com suas imagens e sensações fazendo com que o indivíduo perceba sua natureza complexa, pessoal e por isso única.

[1] Anel de Moebius ou Figura Oito ou Infinito, criada a partir da junção das duas extremidades de uma faixa, torcendo-se uma das pontas, esta figura não possui separação entre o dentro e o fora. É o que Lanan denominou de Lemniscate. Ela trabalha com a continuidade do processo do movimento sempre se entrelaçando.

Referências Bibliográficas

FERNANDES, Ciane. Cadernos Cedes, ano XXI, número 53, abril, 2001;
____________. O Corpo em Movimento. São Paulo, ANNABLUME, 2006;
GUALBERTO, Carolina, L. Signo-relé: um caminho para a percepção da dança In: LOBATO, Lúcia (org). Diálogos com Dança. Salvador, PEA, 2004;

REIS, Andréia. HIBRIDUS CORPUS: Interação e trans-formação. In: FERNANDES, Ciane e REIS, Andréia (orgs). Cadernos do GIPE-CIT. Bahia,PPGAC 2008;

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