quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Faculdade de dança serve para:

Por Thaís Catharin

Analizando o texto de Christine Greiner Arte na Universidade para germinar questões e testar procedimentos , a autora traz em seu texto alguns questionamentos a respeito da Dança na Universidade. As idéias da autora são compatíveis com muitas discussões que cercam as faculdades, profissionais e estudiosos da Dança sobre o papel desta no meio acadêmico. Porém estas discussões não chegaram a uma conclusão precisa, mas já evoluiu para uma certa unanimidade sobre o pensar e analisar a Dança, colocando-a num ponto científico.
Greiner trata o ensino superior de Dança como um espaço para refletir e pesquisar a dança, e não apenas para formar bailarinos (GREINER, 2006, p. 31). Márcia Strazzacappa também aborda este pensamento afirmando que “Quem vai para a faculdade de dança quer – além de dançar, é claro- discutir, analisar pesquisar, criticar, historiar, documentar e discutir o papel da dança na sociedade” (STRAZZACAPPA, 2006, p. 13), mesmo quando esta intenção não é tão convicta ou clara para o bailarino. Strazzacappa complementa sua opinião afirmando que “precisamos desfazer a imagem de que bailarino tem ‘músculo no cérebro’. Bailarino que não sabe comentar e refletir sobre seu trabalho artístico não é um profissional que se preze” (STRAZZACAPPA, Idem). Neste sentido, o academicismo na Dança está como um ampliador de linguagens e escolhas para o bailarino, e não como uma formação ou especialização de uma ou algumas técnicas de dança, pois isto cabe às escolas técnicas e academias especializadas no ensino desta arte.
Neste contexto, concordo com Greiner quando esta defende a teoria dentro do estudo prático (GREINER, 2006, p. 32). Creio que a teoria nasce do processo de algo que instiga o pesquisador, uma necessidade de aprofundamento em algo que se deseja evoluir, descobrir com conhecimento prático e teórico. Teorizar a dança ou o pensamento é cientificar, colocar a mesma como pesquisa, além de uma complexidade e inteligência que aparecem no estudo prático, na evolução deste. Conseqüentemente a comunicação ocorrente deste trabalho artístico será mais profunda, talvez mais instigante e madura. Pode ser que este pensamento evolua o “assistir, pensar e dançar” a dança, como afirma Greiner: “As teorias seriam uma espécie de generalização especulativa nascidas das particularidades de um fenômeno para qual elas foram geradas. Não têm em vista explicá-lo, mas transcriá-lo” (GREINER, 2006, p.33).
Para que ocorra uma atitude de buscar a faculdade como lugar de reflexão e pesquisa, é necessário um amadurecimento do bailarino. Este amadurecimento vem com um determinado tempo de experiência prática e conceitual de Dança anterior e durante o curso superior. Segundo Strazzacappa, o bailarino se destaca de outros profissionais no sentido de que já deve ter uma formação em dança antes de ingressar na faculdade, “daí o papel das academias e cursos livres de dança. As faculdades de dança precisam da academia tanto quanto as academias precisam das faculdades” (STRAZZACAPPA, 2006, p. 13).
Finalmente, acredito que o papel do ensino superior não é apenas de formar bailarinos e professores de dança, mas também não se resume em teorias, conceitos e técnicas variadas. A Universidade na Dança vem como um meio de interação entre linguagens e até mesmo entre técnicas e experiências. O acadêmico de Dança precisa de um lugar de experimentação, análise e crítica, porém com foco e suporte para concretizar suas idéias. Como alega Strazzacappa, “Há uma grande diferença entre diplomar estes novos profissionais e eles se tornarem ‘cientistas’ e ‘artistas’ de fato” (STRAZZACAPPA, 2006, p. 37), vai de cada um, de suas vivências e crenças buscar um caminho dentro da universidade.




Referencias Bibliográficas

-GREINER, Christine. Arte na Universidade para germinar questões e testar procedimentos. IN: XAVIER, Jussara; MEYER, Sandra & TORRES, Vera (orgs.). Tubo de ensaio: experiências em dança e arte contemporânea. Florianópolis-SC: Ed. do Autor, 2006.

- STRAZZACAPPA, Márcia. A Dança e a formação do artista. IN: STRAZZACAPPA, Márcia e MORANDI, Carla. Entre a arte e a docência: a formação do artista da dança. Campinas-SP: Papirus, 2006.

Um comentário:

4º ano de Dança/FAP disse...

Olá Thaís
A questão abordada é super pertinente para o espaço e para o momento.
É satisfatório ter essa discussão nas minhas rodas de conversa, mas sinto por ter me dado conta disto apenas no ultimo ano da Faculdade.
Eu sinto receio ao mesmo tempo em que uma ansiedade para lidar com isto fora do contexto acadêmico, penso muito como irei tratar a dança depois de me formar, tenho expectativas com propostas de uma “pesquisa em dança”, mas tenho receio que esta “falta de conhecimento” engula a minha vontade de propor. Este receio só me ocorre quando me deparo com colegas formados que hoje trabalham com dança, sem nenhum diferencial de quando entraram na Faculdade, mas de um outro lado me instiga os colegas e os “estranhos” que deram uma continuidade e hoje cultivam um pensamento em dança esclarecido e ao meu ver “cientifico” como você cita, gosto mais de jogar neste time, mas sinto medo, pois o lugar onde deveria experimentar de fato já está com os dias contados, sei que tive muitas oportunidades de viver esse exercício, mas assumo fui negligente e não aproveitei!
Mas sinto que estas discussões são termômetros, à medida que nos propomos a discutir fica evidente e até mais claros para nós mesmos, o que a dança pode significar, o que ela “é” naquele ou neste lugar, ontem ou hoje. Entendendo que nossas idéias são subjetivas e se criam de acordo com nossas experiências, reconheço que entrei na faculdade com um pensamento em dança, hoje estou saiu com outro, feliz, amanhã eu não sei, apenas desejo enriquecê-lo.
Grata pelo texto...momentos de reflexão!
Bjos Flávia Mattos